Posts Tagged ‘STF’

O jornalista, depois do fim

outubro 13, 2009

Se você, pessoa feliz e distraída, acha realmente que o fim do diploma vai contribuir para a liberdade de imprensa, veja só o tipo de anúncio de emprego que já começou a surgir depois da ação do nosso querido STF:

Veja bem: não é estágio, mas o salário é menor que o piso da profissão

Veja bem: não é estágio, mas o salário é menor que o piso da profissão

Eu que não ia ser louco de trabalhar com um chefe que ganhasse um salário destes...

Eu que não ia ser louco de trabalhar com um chefe que ganhasse um salário destes...

O pior de tudo é que no questionário para a segunda vaga há uma questão singela: “Como você espera se manter motivado?” Boa pergunta. Com um salário de merda desses, eu também gostaria de saber.

O fim do diploma, ainda

junho 25, 2009

Jornalista, um loserEstava para escrever um texto sobre a novelização do jornalismo, puto que estou com a série de notícias sem nexo, ou simplesmente sem nenhum acontecimento relevante, que assolam desde os grandes jornalões, como a Folha, o Estado e O Globo, até os periódicos ditos “do interior”, incluindo aqui os diários de Mogi das Cruzes. Mas a decisão do STF de acabar com a obrigatoriedade do diploma fez com que eu não pensasse em outra coisa.

Não quis escrever sobre o assunto desde então porque a revolta era grande demais e certamente o texto teria muito mais palavrões e pragas rogadas do que qualquer outra coisa. Hoje, um pouco mais calmo (mas ainda devidamente puto), vou discorrer sobre os argumentos utilizados pelos defensores desta aberração recém-aprovada:

ARGUMENTO 1: Ah, mas o diploma é um obstáculo à liberdade de imprensa!

RESPOSTA: Não tem nada mais ridículo que gente que repete o que os outros falam e não pensa no que acabou de falar. Meu filho, pare e pense: estamos na era da internet. Qualquer analfabeto pode criar um blog, escrever o que der na telha, inclusive fazer algumas matérias e/ou colunas, se for o caso. De onde você tirou que o diploma atrapalha a liberdade de imprensa?

E mais: sabe porque muitas falcatruas não chegam ao público? Porque políticos e empresários aliciam jornais e revistas, para que não publiquem os podres. Em algumas cidades, inclusive na Grande São Paulo, o caminho é inverso: donos de jornais chantageiam políticos, ameaçando-os com dossiês fabricados pela redação: se não rolar grana, publica-se tudo. Os ameaçados cedem e a notícia terrível nunca é publicada. Agora, todo mundo acha que encher uma redação com pessoas não-formadas em jornalismo vai mudar isso.

ARGUMENTO 2: Ah, mas jornalismo não se aprende na faculdade. Jornalismo é vocação.

RESPOSTA: Medicina também é vocação. Quantos médicos já não conheci que me disseram sonhar com a profissão desde pequeno? Que pediam kits médicos de brinquedos na infância, que auscultavam o coração do pai e da mãe quando voltavam da escola? Isso é vocação. Agora, você se submeteria a uma cirurgia feita por esse “médico com vocação” se ele não tivesse feito curso de medicina?

ARGUMENTO 3: Se formar em jornalismo custa caro. O fim da exigência acabou com essa regra excludente.

RESPOSTA: Óbvio que é caro. Caro e difícil. Assim como é caro se formar em direito, em engenharia, medicina etc. Nem por isso se ouve falar em regras semelhantes para outros cursos. O problema aqui não é exatamente o custo da universidade, e sim a dificuldade que os estudantes da rede pública têm de encarar um vestibular numa USP ou Unesp da vida. Este é outro problema e o buraco, pode ter certeza, é muito mais embaixo.

ARGUMENTO 4: O STF acabou com os privilégios dos jornalistas, essa gente prepotente.

RESPOSTA: Jornalista não é só prepotente, é um belo de um filho da puta, também. Quem trabalha em uma redação tende a se tornar uma criatura egoísta, leva-e-traz e extremamente falsa. O que salva o jornalista de ir para o inferno sem escalas é, muitas vezes, a formação humanista que ele venha a receber nos bancos universitários. E querem acabar com isso. Aliás, porque para médico, engenheiro e advogado a exigência do diploma não é um privilégio?

Pra encerrar a postagem (mas não o assunto), alguns argumentos contra a decisão do STF:

– O piso salarial de jornalista é uma piada. Nenhum profissional, de nenhuma área, que tenha passado quatro anos em uma universidade, ganha tão pouco. Como se não bastasse, em muitas empresas se paga menos que o piso, um acinte às leis do País e um desrespeito com o profissional. Com a mudança (e o possível aumento da concorrência desleal), a tendência é que o salário caia ainda mais. Preparem-se para ver anúncios do tipo: “Precisa-se de repórter. Jornada de dez horas diárias. Salário: R$ 400,00”.

– Sem precisar de um curso universitário, os postulantes a uma vaga em jornal precisarão apenas de um curso de trainee, que nada mais é do que uma padronização do funcionário perfeito: um egoísta de mente corporativa, que diz amém para tudo o que o patrão fala pensando apenas no seu crescimento pessoal dentro da empresa. Alguém que não hesita em publicar que o rei está vestido, mesmo tento conferido com os próprios olhos que o rei está nu. A Folha tem feito isso para escolher seus profissionais e o resultado nós temos visto recentemente.

– Ou seja, o fim da obrigatoriedade tem como objetivo apenas atender às necessidades dos barões da imprensa, que continuarão a controlar a mídia da forma que bem entendem. Liberdade de expressão? Há!!