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Crítico musical e o humor involuntário

maio 27, 2009

Comer Caetano? Tô fora!!!O grande Walter Carrilho fez uma postagem hilária desancando a última obra sanitária de Caetano Veloso, “Zii e Zie” (Que porra é essa? Nome de videogame da Nintendo?), aproveitando também para esculhambar com os críticos musicais mela-cueca. No texto, ele pinça algumas das mais absurdas resenhas escritas sobre o disco, com os devidos comentários acerca das notas, digamos, eruditas.

 Dei muita risada com as frases, mas uma me chamou a atenção: falava sobre “devoração gozosa” e “levar ao âmago da criação de Caetano”. Achei que de onde veio essa teria muito mais. E resolvi procurar o texto, que está transcrito aí embaixo. Algumas recomendações são importantes. 1) Evite ler quando o chefe estiver por perto. O texto é garantia de risadas, e elas podem não ser bem recebidas; 2) O texto está na íntegra, justamente para ninguém lincar no texto original. Seria dar publicidade demais para tal cretino. 3) Procurem o “Dicionário do Crítico Metido a Besta”. Você vai precisar dele.

Que Caetano Veloso é atemporal e multimídia, que sua obra se renova a cada trabalho, que suas opiniões podem ser por vezes controversas e, quem sabe, acintosamente “erráticas”, que sua presença é fundamental para a compreensão da história cultural do país, tudo isso e mais um pouco constituem fatores de conhecimento geral, mesmo para aqueles que se Não é assim que vão comer Caetano...dizem enfastiados do artista mas que, às escuras, busca Caetano em suas inúmeras interfaces – e, saiba-se, temos “Caetanos” para todos os gostos, como na canção antropofágica de Adriana Calcanhoto para o poeta – Vamos comer Caetano?

Sim, porque só uma “devoração” gozosa é capaz de nos levar ao âmago da criação de Caetano, principalmente desse “novo” que se apresenta em Zii e Zie (Universal Music), recente álbum que expõe algumas de suas composições experimentadas anteriormente na internet (em blogs e sites).

E agora adjuntas a um bojo de outras canções que, ao serem contempladas na ordem seqüencial do disco, traçam conceitualmente um quadro de nossa condição humana atual, a do homem contemporâneo diante de uma realidade universal, cerceado pela necessidade de uma atitude que, simbolicamente, torna-se cada vez mais inatingível.

Numa tênue contigüidade experimental similar ao antológico Cê, de 2006, o novo Zii e Zie se amplia em diferentes abordagens temáticas, conseguindo explorar nuances anímicas constantes na obra do compositor – a presença do amor, do erotismo, do desejo -, porém articuladas, e vinculadas, a temas densamente políticos e sociais, como em Perdeu, na qual se pari, cospi e expeli “um deus, um bicho, um homem”, personagem assumidamente situado entre a mítica pândega e a marginalidade destino-único da vida real, sem a alegoria de um Meu Guri, de Chico Buarque, cujas temáticas se assemelham, mas em Perdeu com foco condicionado distanciadamente, como numa narrativa filmográfica.

Flashs e retratos nesse mesmo viés temático reaparecem na corrosiva Falso Leblon, na qual o interlocutor se desnorteia entre “ecstasy (bala), balada”, “drogas” e a “vã cocaína” à qual se nega, inventário obscuro que se contrapõe ao idílico teor poético do refrão: “Ai amor /Chuva num canto de praia no fim / Da manhã / E depois de amanhã?”. A “Pasárgada, “Youkali”, ou a “Maracangalha” do poeta se revela como uma ponta de expectação no caos de uma Leblon falseada.

Cosmovisão? Guantánamo?Mas a acidez crítica dessa cosmovisão atinge seu ápice em A Base de Guantánamo, na qual Caetano traz à tona, e ao conhecimento de novas gerações, a existência duradoura da base naval criada pelos norte-americanos, no sudeste de Cuba (antes da entrada de Fidel Castro – a ocupação fora em 1903), onde prisioneiros iraquianos, do Afeganistão, entre outros, mantêm-se exilados e torturados, com seus direitos humanos desacatados pelas forças norte-americanas (tampouco a ONU consegue intervir nessa nevralgia histórica). Se em Haiti, política canção em parceria com Gilberto Gil (de 1993), a narrativa fazia emergir a realidade miserável tragicamente elidida pela soleira americana numa comparativa equivalência com a terra brasilis, A Base de Guantánamo sinteticamente anuncia a tônica histórica quase como um depoimento confessional, crua e curta, seguido de um refrão que, inevitavelmente, reitera-se numa ação hipnotizante.

A tessitura já desgastada pelo “simbólico” não abala o compositor, que penetra nas nervruras impactantes de uma situação histórica cruelmente real e impensável. O dramaturgo alemão Bertolt Brecht perguntara: “em tempos sombrios se cantará também?” E a resposta do escritor, muitas décadas depois, conjumina com a de Caetano: “também se cantará sobre os tempos sombrios”.

Sem perder a ternura, mas mantendo o estoicismo por ser um dos principais pensadores de nossa geração, Caetano consegue matizar o CD com leves canções, não como uma forma de atenuar a tensão temática trabalhada nas referidas, mas sim para reiterar que sua fala poética é por demais abrangente diante do turbilhão-mundo que se perfaz sob seus olhos, captando belezas e horrores, proezas e façanhas, contradições e verossimilhanças.

Deste modo, faz coexistirem “meninas pretas de biquini amarelo” com moças “em aparição transatlântica”, dá razão ao roqueiro Lobão em sua sentença “chega de verdade” atribuída à mulher, diz desentender uma canção de Madona, desacredita em Deus “diferentemente de Osama e Condolezza”, e dependura oniricamente, nos arcos da velha Lapa, Guinga, Pedro Sá e o presidente Lula, num matulão que só mesmo Caetano, sempre jovem e aguçadamente atento, pode sentenciar ao pronunciar “amar nosso tempo”.

E num arremate não menos poético, reverencia e traz de volta à nossa memória a grande Clementina de Jesus, foz-matricial de toda uma negritude desfeita no fazimento do Brasil, ao regravar os sambas Ingenuidade (do desconhecido Serafim Adriano) e Incompatibilidade de Gênios (de João Bosco e Aldir Blanc), duas peças emblemáticas da obra de Rainha Quelé.

Levado e acompanhado pela bandaCÊ, em arrojados e modernos arranjos de Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado (além do próprio autor), Caetano Veloso consegue transar sambas e rocks, legando mais um antológico disco para nossa atual carente cultura brasileira.

Alguém entendeu alguma coisa. Eu também não…

Shrek Terceiro e Fiona

maio 25, 2009

Tenho sérias restrições ao pessoal do PT. E não tenho dúvidas que algum espertinho realmente imaginou: “puxa vida, de repente seria uma boa tentar um terceiro mandato para o Lula”. Até acho que esse espertinho tenha falado sobre a idéia genial para alguns amigos, que também curtiram o negócio. Mas duvido que tenha ido muito além disso. Isto posto, digo que me incomoda bastante a enxurrada de matérias sobre o assunto, como se não tivesse nada mais importante para enfocar no noticiário.

As reportagens sobre as “manobras para emplacar um terceiro mandato” (ou algo que o valha) têm um indisfarçável tom de factóide. Não há nenhum debate sobre o assunto. Ninguém faz nenhum tipo de articulação no Congresso. Nenhum documento bombástico ou gravações a respeito vieram à tona. De onde eles tiraram essa idéia, então? Claro, do próprio Lula, que nega o interesse. Mas depois os jornais estampam: “Lula nega terceiro mandato”, como se tivesse sido pego com a boca na botija e tentando se desvencilhar.

No dia 20, o jornal “Estado de S. Paulo” enfocou o assunto de novo. Em Pequim, questionou Lula que, claro, negou. Mas para não cair na mesmice, o jornal vinculou um outro assunto a este, de forma um tanto heterodoxa: a doença da ministra Dilma Roussef, desde já candidata à presidência pelo PT para 2010. Veja como ficou a chamada no site do jornal.

Mas não aprendeu ainda a fazer círculo? 

Curioso, né? “Lula nega 3º mandato – ‘Dilma está bem’”. Ou seja: a Dilma não vai piorar, logo será nossa candidata. Por isso, não preciso me candidatar pela terceira vez. A chamada faz crer que o PT apenas desistiu do terceiro mandato porque teria encontrado a candidata perfeita. Incrível como a imprensa consegue dar vida a um assunto inexistente.

E, com a mesma habilidade, deixa outros casos morrerem. Vide a própria reeleição, em 1998, e as acusações de compra de votos para a aprovação do mesmo.

Em tempo: tanto PT quanto PSDB não têm candidatos viáveis, apenas prováveis. Emplacar Dilma será tão duro quando emplacar José Serra. A briga vai ser feia entre os dois. Tão feia quanto eles próprios.

Quero ser importante!

maio 21, 2009

Tem certas coisas que não entendo e pelo visto nunca vou entender. Uma delas é essa paranóia com a porra da gripe suína. Ok, tem gente morrendo no mundo inteiro, descolar a vacina é um parto etc. Mas vejam só, crianças: dos dez mil casos já descobertos no mundo inteiro, menos de dez são do Brasil. Mortes, nenhuma até ontem (me corrijam se alguém já tiver morrido). Por que tanto desespero?

Quer ficar apavorado de verdade, mané? Então vão aí alguns dados bem mais sólidos: só na Bahia, já foram notificados quase 70 mil casos de dengue este ano (nem todos confirmados). E mais de 50 pessoas já bateram as botas (infelizmente, Carlinhos Brown, ACM Neto e Cláudia Leitte não integram a lista). Para piorar, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Acre, Goiás e Espírito Santo também sofrem com a explosão de casos da doença. No Rio de Janeiro e São Paulo, estados mais ricos do País, rola uma epidemia todo ano. Mas claro, tem muito mais glamour ter medo de uma doença que se espalha nos EUA e Europa.

Sei lá, acho que é uma mania de grandeza, mesmo. No fundo, o povo nem está com medo, e sim com uma vontadezinha mal disfarçada de fazer parte do mundo civilizado. De dizer que temos os mesmos problemas que os países ricos. Já percebeu que as pessoas enchem a boca pra falar que “fomos afetados pela crise?” Em 1999, quando os emergentes foram os principais afetados, ninguém tinha esse orgulho…

Claro que o governo federal tem culpa no cartório. Lula dá muito mais ênfase pra gripe suína porque, se a doença aportar por aqui, não será culpa nossa. Afinal, ela se espalhou pelo mundo. Já a dengue…

Essa histeria com a gripe suína não é muito diferente de quando explode alguma guerra mundo afora. As pessoas no Brasil vivem se perguntando sobre os riscos de o Brasil ser envolvido, ou de sermos atacados. Gente, acorda!!! Vocês fazem idéia de quanto custa um míssil? E pra lançá-lo? Alguém seria louco de rasgar dinheiro e perder tempo explodindo uns merdas como nós?

Beavis & Butt-head 2009

maio 20, 2009

Huh huh... huh huh...(Butt-Head) Que banda é essa?
(Beavis) Goldfrapp
(Butt-Head) Que viagem. Que povo riponga.
(Beavis) É verdade.
(Butt-Head) Mas o som é bem legal.
(Beavis) E olha só esse povo com essas fantasias. Os caras ganham pra se fantasiar e fazer macaquices no palco.
(Butt-Head) Pois é. O Goldfrapp é uma mistura de Belle and Sebastian com Mutantes e Sítio do Pica-Pau amarelo!!!

(Butt-Head) The Felling… Nossa, essas bandas são todas parecidas
(Beavis) Pois é. Todo mundo soando igual
(Butt-Head) E vestindo tudo igual, também. Todo mundo de preto e branco
(Beavis) E todos são viadinhos magrelos
(Butt-Head) Que banda é essa? É indie, né? Se bem que, com esses cabelinhos, estão mais pra emo
(Beavis) É mesmo. Indie ou emo?
(vocalista) Meu pai me trazia aqui pra Glastonbury quando eu era pequeno. Acho que vou chorar…
(Beavis & Butt-Head) É EMO!!!

(vocalista) Vamos dividir o público em duas partes. O pessoal da direita começa a cantar.
(Beavis) Putaquipariu. Que merda é essa? Até banda de pagode deve fazer isso.
(Butt-Head) Até Rio Negro & Solimões faz isso.
(Beavis) Banda escrota…
(Butt-Head) Acho que além de levar pra Glastonbury, o pai dele o levava pra Fapija, em Jacareí.

Síndrome de briga na escola

maio 18, 2009

Já se passaram alguns dias do confronto entre Palmeiras e Sport, pela Copa Libertadores da América, e resolvi enfocar os embates por um outro ângulo. Por conta disso, não vou tecer comentários sobre a espetacular atuação de São Marcos. Nos links à direta, no “Pilulas Verdes”, tem gente mais gabaritada para isso.

Desde a Copa do Brasil do ano passado que se criou uma curiosa situação entre os dois times. As provocações de ambos os lados e as seguidas derrotas do Palmeiras criaram uma nova e inusitada rivalidade entre os clubes, acirrada pela troca de farpas ente o técnico palmeirense Vanderlei Luxemburgo e o vice-presidente do Sport, Guilherme Beltrão. Até aí, tudo bem. O problema foi que a imprensa, sedenta de sangue, resolveu colocar outro foco na disputa: uma inexistente rixa entre os povos de São Paulo e Pernambuco.

Guerra além das quatro linhas?Tudo começou quando alguns fóruns de torcedores, como era de se esperar, começaram a ficar cheios de insultos contra o time adversário. Em pouco tempo, o foco deixou de ser os clubes e o alvo passou a ser toda a população de um estado. “Sulistas idiotas”, “Pernambucanos babacas” e outros insultos começaram a surgir.

Evidentemente, tais xingamentos fazem parte de uma minoria de torcedores. Gente mais exaltada ou simplesmente encrenqueiros de internet, que bancam o valente nos escritos, mas não têm coragem sequer de colocar seus verdadeiros nomes nos fóruns. O problema foi que os meios de comunicação gostaram do assunto: com um certo estardalhaço, passaram a citar os insultos em matérias variadas.

Pronto, foi o que bastou para que uma disputa entre dois times se transformasse em canal para destilar ódio. E surpreendentemente, quem embarcou nessa de cabeça foi a torcida do Sport. Incitados pela diretoria do rubro-negro do Recife, os torcedores se diziam vítima de preconceito por parte dos estados do Sul e do Sudeste e ampliaram os insultos aos paulistas, chamando-os muitas vezes de “sulistas de merda”. Curioso é usar esta expressão para se queixar de preconceito.

O problema é que os jornais deram destaque demais aos insultos, que até então eram um caso isolado, e o transformaram em um caso sério. Motivado pelas notícias, muitos torcedores, especialmente pernambucanos, acreditaram na história de que “os paulistas nos odeiam” e engrossaram o coro da torcida do Sport. A Imprensa, estupidamente, se comportou como aqueles alunos que, à saída da escola, empurram dois coleguinhas que se estranharam no recreio, fazendo de tudo para que ambos saiam na porrada.

Em tempo: é claro que há por aqui preconceito contra nordestinos, mas o caso ocorrido na Libertadores beira à sandice. E a uma inexplicável mania de perseguição.

Classificados musicais*

maio 15, 2009

Uma das coisas mais curiosas da música são as “bandas de classificados”. Um grupo de amigos precisa de um baixista e anuncia no jornal. De repente, um bando de malucos aparece em busca da vaga, como se fossem office-boys em uma agência de emprego ou executivos em um disputado processo de seleção. Mais pitoresco ainda é quando um único sujeito resolve contratar a banda inteira por este meio. O curioso é que, muitas vezes, a banda faz sucesso.

Com certeza, este foi o recurso utilizado por algumas gravadoras para recrutar artistas que compõem a dita “Nova MPB”. Nova só no nome, pois a música que essa galera jovem e descolada faz é tão mofada quanto as músicas do Vicente Celestino, com a diferença que este ao menos era um cantor e compositor honesto. O que temos hoje são cópias deslavadas de artistas consagrados pelo público, pela crítica ou pelos dois. E tome clones de Jorge Ben, Tim Maia, Djavan, Clube da Esquina e quetais. Alguém aí falou em Música Pastiche Brasileira?

São tantos que não deve ter sido difícil recrutá-los. Bastou soltar uns anúnciozinhos em algum Primeiramão da vida. Rápido, fácil e barato. Dá pra imaginar alguns dos anúncios:

PROCURA-SE – Afro-americano orgulhoso de sua negritude, com cabelo estiloso, para cantar, tocar e compor. É imprescindível discurso fechado de louvor à música negra norte-americana e, principalmente, à brasileira. Testes de aptidão incluem questões sobre a discografia da Banda Black Rio e a contribuição dos mesmos para a Nova MPB. Mande um e-mail para jorgebenémeupastor@querosertim.com.br

MUSA GAY – Procuramos mulher corajosa, evoluída e de voz tão forte quanto seu temperamento para se tornar uma estrela folk brasileira. Damos preferência para lésbicas e bissexuais, não necessariamente nesta ordem. Importante alardear sempre que possível sua posição sexual e usá-la como escudo contra críticas musicais. Mande carta para rua das bolachas s/n, Campo Largo.

ARTISTA SENSÍVEL – Queremos contratar cantor e compositor que seja fã do Djavan para compor doces canções acompanhadas de letras ininteligíveis, mas repletas de insípidas citações artísticas. Discurso marcado por loas às mulheres, engajamento social e cabecice caetânica são requisitos aceitáveis. E-mail para meame@soulegal.com.br.

RIPONGA – Jovem, esta é a sua chance! Queremos cantor e compositor que adora curtir a natureza, o reggae e seus subprodutos – incluindo a maconha. Gravamos músicas cheias de menções a cachoeiras, praias, Jah e críticas ao sistema. Exigimos traje de gala – camiseta estampada com coqueiros, folhas de maconha ou frases de Bob Marley e bermudão de praia. Chapéus de palha são uma boa alternativa aos dreadlocks. Telefone… qual era o número mesmo?

SOBRENOME – Aceitamos filhos de artistas famosos para seguir os passos dos pais, com ou sem o sobrenome-grife. Negue semelhanças do seu estilo com o de seus progenitores. Experiência anterior na música, mesmo em carreira infantil, contam pontos. Peça para o seu pai, digo, empresário, nos procurar.

* Texto antigo (já postado em site de um amigo) que encontrei dia desses perdido no meu computador

A guerra do jornalismo

maio 13, 2009

O jornalismo brasileiro entrou, há algum tempo, em uma perigosa guerra fratricida. A mesma pela qual passou entre os anos 40 e 60, quando grandes barões da imprensa resolveram defender seu terreno de forma autoritária e tudo fizeram para destruir os pequenos e médios jornais e esmagar a mídia independente.

Hoje, em tempos de internet e novas mídias que vão conquistando cada vez mais espaço, a guerra está de volta, dividida em várias frentes. E várias destas representam uma luta de anão contra gigantes.

Uma destas frentes é o embate entre a poderosa Folha de S. Paulo e do pequeno mas influente site Congresso em Foco, do veterano jornalista Sylvio Costa. Há uns bons anos o site vem realizando um trabalho importantíssimo de cobertura política em Brasília. E recentemente ganhou uma grande repercussão nacional por conta de seus furos jornalísticos sobre a farra das passagens aéreas protagonizada por parlamentares.

Tal episódio bastou para que a Folha de S. Paulo, que citava continuamente o site por conta de tais matérias, o fizesse com um estranho interesse, inclusive apontando grandes empresas como financiadoras do site.

As seguidas matérias despertaram a revolta de Costa, que publicou em seu site uma carta-desabafo:

De 27 de fevereiro de 2009 até hoje, o jornal Folha de S. Paulo publicou quase 20 matérias ou artigos citando este site. Em vários casos, levou à sua influente primeira página os resultados da apuração de nossos repórteres, baseando-se exclusiva ou fundamentalmente em informações que você, leitora ou leitor do Congresso em Foco, leu aqui antes. Alguns dos mais importantes, e respeitáveis, colunistas do jornal utilizaram nossas informações para fazerem análises interessantes, pertinentes. Somos, sincera e profundamente, gratos por isso. Aproveito para estender nossa gratidão a todos os colegas dos demais veículos que nos estão abrindo a porta, abrindo a porta principalmente pra força renovadora da internet.(…) 

Lamentável, mas parece que isso incomoda… e incomoda… ahn… à própria Folha?! Permito-me aqui uma liberdade. Tenta visualizar aí, amiga ou amigo: imagens de um Brasil em movimento, esperançoso, clamando por liberdade e mudanças… 

Década de 1980. Ao aderir à campanha das diretas-já e adotar uma série de inovações que levaram à revisão de antigas práticas organizacionais e editoriais das redações, a Folha de S. Paulo torna-se uma referência em termos de jornalismo.

Voltamos. A conversa é de novo textual. Seguimos. E, gente, o tempo passa… Passa, e, como é notório, a credibilidade da Folha vem sendo colocada em xeque por vários fatos ou pessoas que questionam com frequencia e indignação crescentes sua conduta, seja pelos erros cometidos, seja pela resistência em reconhecê-los e corrigi-los. E nenhum outro jornal brasileiro perdeu tanta circulação nas últimas décadas, em números absolutos. Segundo levantamento recente da revista Meio & Mensagem, a Folha, que chegou a vender mais de 1 milhão de exemplares por dia, fechou o primeiro trimestre deste ano com uma circulação média diária de apenas 298.352 exemplares.

E não é que a Folha resolveu jogar lama na gente, menina? E o fez, repare só, com a sutileza própria – e, por isso mesmo, mais perversa – dos cirurgiões hábeis e dedicados. Gente acostumada com o trato da informação e perfeitamente habilitada para avaliar seus efeitos.

O texto é longo e continua. Você pode ler a íntegra aqui

http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=537IMQ007

Mudanças

maio 13, 2009

Tinha publicado aqui um texto sobre música, mas o jornalismo falou mais alto. Uma nova postagem ocupará este espaço em breve. Não sumam!!!

Dois pesos e duas medidas

maio 11, 2009

É com uma dose cavalar de vergonha que admito: minha formação como “consumidor” do jornalismo esportivo (e aspirante a uma vaguinha nessa seara) teve como alicerce as colunas de Juca Kfouri. Seus textos virulentos contra a bagunça do calendário brasileiro e as práticas nocivas dos dirigentes me cativavam e eu, na minha gigantesca ingenuidade, acreditava que estava diante de um arauto da ética.

Anos depois, algumas de suas campanhas por mudanças no futebol brasileiro se tornaram realidade, mas não surtiram o efeito esperado: vide a extinção da lei do passe e o Campeonato Brasileiro de pontos corridos. O ídolo ainda estava calçado, mas o barro já aparecia em seu pés.

Nos últimos anos, porém, a verdade surgiu à tona: JK nada mais é que um jornalista cheio de pecados. O primeiro deles é viver fazendo média com seus leitores: elogia e critica apenas unanimidades, não tem coragem para colocar opiniões discordantes ou desafiar o senso comum.

Seu segundo grande defeito é a incrível mania de perseguir, de forma desmedida, seus desafetos. O problema é que muitas vezes acaba atingindo instituições que nada têm a ver com suas inimizades. O caso clássico foi chamar a diretoria do Palmeiras de trouxa por ter contratado seu antagonista, Vanderlei Luxemburgo. Anos antes, os dirigentes do Santos passaram pelo mesmo problema.

Mas o ídolo JK mostrou mesmo seus pés de barro quando seu time, o Corinthians, se sagrou campeão paulista invicto, há algumas semanas: exaltou o Campeonato Paulista como se fosse o maior dos campeonatos, depois de passar o ano inteiro chamando a competição de “Paulistinha”, de forma claramente pejorativa. Aliás, há anos ele faz campanha pela extinção dos estaduais. Alguns exemplos exigem comprovação. Basta ir em seu blógui e checar.

Dia 21 de abril, coluna “O Verdão vive!”

O Palmeiras vive e decide sua vida na quarta-feira que vem, em Santiago, diante do Colo-Colo.

Já imaginou se tivesse o Corinthians, em Presidente Prudente, ou o São Paulo, no Morumbi, pela frente no domingo?

Bem aventurada desclassificação do Paulistinha!

 No mesmo dia, coluna “Ah, os estaduais…”

A média de público do Paulistinha, antes dos jogos decisivos, é de apenas 5722 pagantes por jogo.

"Agora sim, é Paulistão!!"Mas veio o título do Corinthians. E tudo mudou. No dia 4 de maio, JK reproduz em seu blog a coluna que publicara na Folha de S. Paulo, com o sugestivo e batido título “O Campeão dos Campeões”. Ali, ele não ousa utilizar a expressão “Paulistão”, mas o conteúdo entrega a intenção.

O 26º título estadual do Corinthians valeria tanto quanto o 25º, o 24º, o 23º etc, ou seja, todos aqueles posteriores aos anos 80, quando esses títulos já não valiam quase nada e receberam, aqui, o apelido de Paulistinha.

Mas, de fato, este valeu mais.

Pelo simples motivo de ter reintroduzido o Corinthians no rol dos grandes, depois do vexame da Segunda Divisão.

Sim, porque o título veio numa competição em que estavam dois times paulistanos que estão na Libertadores, um deles, o São Paulo, o atual campeão Brasileiro. Que o Corinthians, inclusive, derrotou duas vezes, em casa e fora.

O curioso é que ele só se deu conta de que o Paulista contava com dois times que estão na Libertadores após o título corintiano. Antes disso, ele dizia justamente o contrário: que o campeonato ficava esvaziado porque dois dos postulantes ao título – São Paulo e Palmeiras – estariam mais preocupados em disputar a competição continental.

Para tentar ocultar sua parcialidade, JK diz em outra postagem que o título deste ano foi menor em comparação aos títulos estaduais que o Corinthians faturou em 1922, 1954, 1977 e o bi de 1982/83. Quem conhece um pouco de futebol sabe que esses são títulos antológicos, com um peso até maior que os títulos Brasileiros que o Corinthians conquistou. Se o campeão fosse o Santos, por exemplo, esse título também seria menor que os conquistados pelo Peixe em 1935, 1955, 1978 e 1984.

O barro invadiu as redações. E impregnou a tela dos computadores. Cuidado, leitor”!!!!!

Oasis e a síndrome do terceiro disco

maio 8, 2009

A crítica musical consagrou a expressão “síndrome do segundo disco” para classificar bandas que estréiam com um grande disco e, depois, somem ou não conseguem repetir o êxito no álbum seguinte. Mas poucos devem ter percebido que muito mais grave é a “síndrome do terceiro disco”. Afinal, 90% das bandas que pipocam num segundo disco não tinham lá tanto conteúdo mesmo. Em geral, levaram uns dez anos para conseguirem gravar um disco recente. Para repetir a dose, precisariam de outro tanto. Como não dispõem desse luxo, o resultado é sabido.

No entanto, se uma banda apresenta dois bons (ou ótimos discos) e patina no terceiro, é sinal de que algo mais grave aconteceu. E quem perde somos nós, ouvintes, que de uma hora para outra podemos deixar de ouvir canções antológicas para aguentar mais do mesmo ou uma queda acentuada de qualidade nos trabalhos seguintes.

NirvanaO Nirvana talvez corresse tal risco, se Kurt Kobain não tivesse se matado há quinze anos (sim, crianças, preparem os lenços que os necrófilos vão abrir o baú). Depois de gravar um disco ótimo (“Bleach”, que passou batido) e outro sensacional (“Nevermind”, que explodiu), o trio de Seattle gravou o confuso “In Utero”, negativamente influenciado pelas brigas entre a banda e o diretor Steve Albini, a intromissão desmedida de Courtney Love no estúdio e os excessos do vocalista com a heroína. Se a coisa continuasse nesse ritmo e Kurt vivesse um pouquinho mais, o Nirvana certamente gravaria um belo cocô em seguida.

oasisComo Kurt resolveu o problema a tempo, sobrou para os irmãos Gallagher que, apesar de abusar das drogas, tiveram o azar de continuar vivos. Na esteira da vinda do Oasis ao Brasil, muita gente tem se agitado com a possibilidade de ouvir grandes canções como “Champagne Supernova”, “Supersonic”, “Live Forever” e, claro “Wonderwall”, que chegou a ser eleita em uma eleição a “canção da década”. Mas a coisa vai desandar se eles resolverem privilegiar músicas dos discos mais recentes.

E eis aí um exemplo cabal da “síndrome do terceiro disco”. Uma banda que produz dois álbuns como “Definitely Maybe” e “(What’s the Story) Morning Glory” não pode ser considerada uma banda ruim, certo? Mas e uma banda que cria duas obras-primas do rock contemporâneo e depois passa uma década sem fazer nada que preste? Ok, “Don’t believe the Truth” é um disco bonzinho, mas só isso. E “The Masterplan” é um disco de sobras dos dois primeiros, não conta. E fica a pergunta: por que uma banda que tinha tudo para ser sensacional não acerta a mão há tanto tempo? Talvez tenham sido alguns fatores similares aos que acometeram o Nirvana. Mas a verdade é que, passado todo esse tempo, o Oasis se tornou uma banda passadista.