Posts Tagged ‘jornalismo’

O jornalismo em tópicos

fevereiro 8, 2010

Esqueça o jornalismo investigativo, “new jornalism” e quetais. A forma de se fazer notícia no Brasil é peculiar e se divide em várias categorias, todas pitorescas. Conheça algumas delas:

Jornalismo Manoel Carlos
Já perceberam como jornal adora uma novela? Todos ficam esticando por semanas – às vezes por meses – um assunto que deveria ganhar repercussão por, no máximo, cinco dias. Ninguém aguenta mais, mas todos os veículos prolongam os temas com pautas sensacionais do tipo. “Garota assassinada era fã de Britney Spears”, “Deputado acusado de corrupção trabalhou como garçom na juventude” ou “Na várzea, Ronaldo fez muitos gols como o da semana passada”. Os editores só esqueceram de uma coisa: novela era longa nos anos 60, quando não existia nada para se fazer à noite.

Over mídia
Sou de um tempo em que “drama” era ficar sem os movimentos da perna em razão de um acidente e “tragédia” era perder toda a família numa chacina ou deslizamento de terra. Mas algo mudou de uns anos para cá: ou estes termos foram banalizados pela mídia ou os valores mudaram a ponto de os problemas acima se tornarem pequenos. Afinal, “drama” mesmo quem passou foi Bruno Senna, que corre o risco de não correr a Fórmula 1 este ano. Que o digam os incontáveis jornais e revistas que usaram a expressão para falar sobre o caso.

Jornalismo Você S/A
Esta não é uma crítica à publicação. Afinal de contas, por mais chata que seja, a revista é segmentada e apenas cumpre seu papel de atender bem seu público alvo (não, meu filho, não foi uma insinuação. Eu realmente quis dizer que esse povo é chato). Assim como uma revista sobre celebridades usa expressões como “fashion”, “poderosa”, “adoro” e afins, a Você S/A vai nos entupir de palavras modernosas como “networking”. Foda é você ver aspones bancando o executivo e anunciando que precisam de profissionais para um “job”. Daí assessor de imprensa vira “analista de comunicação” e o faxineiro vira “gestor de limpeza”. Agora imaginem as matérias produzidas num ambiente assim…

Escolinha Matinas Suzuki
O jornalista supracitado é conhecido por ser um dos artífices da “Revolução dos Menudos”, como ficou conhecido o processo de reformulação da Folha de S. Paulo nos anos 80. Sempre me chamou a atenção a postura do japa nas fotos: de terno e gravata, impecável e sempre de braços cruzados, mais parecendo um executivo que um jornalista. Desde então, editores e donos de jornais pagam de CEOs da casa do caralho, com a mesma pose. É da escolinha Matinas Suzuki que também sai a turma do Você S/A, descrita aí acima, que tenta encaixar expressões como “brainstorm” em um texto sobre acidente de trânsito ou o novo disco da Beyoncé.

Ejaculação precoce
Belo dia, uma grossa nuvem de fumaça sobe aos céus de São Paulo. Jornalistas, em todo o canto, começam a correr atrás de informações para soltar a matéria. Logo, chega à internet a primeira notícia sobre o assunto. Descobriram a causa da fumaça: queda de avião. Palmas para o autor, assinou um furo nacional. O jornalista mostrou rapidez, requisito fundamental para os corridos e dinâmicos dias de hoje. Será? Nem tanto. Poucos minutos depois, chega à tona a verdadeira notícia: o que de fato ocorrera foi um incêndio numa fábrica de colchões. Percebem a diferença entre uma coisa e outra? Dá pra acreditar que o primeiro jornalista REALMENTE apurou a notícia? Se isso é jornalismo, eu sou uma morsa.

Pré-fabricado
Nestes tempos internéticos, virou moda falar em “control C + control V” para falar sobre a triste mania de apenas copiar as matérias alheias. É o tal do “Jornalismo Google”, outra expressão muito usada. No meu tempo de faculdade, quando a internet engatinhava e ainda havia máquinas de escrever no campus, a expressão era “Gilette Press”. Mas pior que copiar matérias é quando conceitos são copiados. Sabe aquela frase que alguém fala e é imediatamente copiada à exaustão, sem que ninguém pare para pensar no que significa aquela frase? Leia qualquer página em qualquer jornal e você lerá toneladas de exemplos.

O jornalista, depois do fim

outubro 13, 2009

Se você, pessoa feliz e distraída, acha realmente que o fim do diploma vai contribuir para a liberdade de imprensa, veja só o tipo de anúncio de emprego que já começou a surgir depois da ação do nosso querido STF:

Veja bem: não é estágio, mas o salário é menor que o piso da profissão

Veja bem: não é estágio, mas o salário é menor que o piso da profissão

Eu que não ia ser louco de trabalhar com um chefe que ganhasse um salário destes...

Eu que não ia ser louco de trabalhar com um chefe que ganhasse um salário destes...

O pior de tudo é que no questionário para a segunda vaga há uma questão singela: “Como você espera se manter motivado?” Boa pergunta. Com um salário de merda desses, eu também gostaria de saber.

Meu Twitter é aqui (2)

agosto 20, 2009

– O site da patroa está com nova promoção. Agora o prêmio é uma transformação visual para a mulherada. Cola lá: http://bit.ly/3VBJ3d

– Xuxa ganha Kikito em Gramado pelo conjunto da obra. O fim do mundo? Que nada! Vem aí a animação “Ivete Stellar e a Pedra da Luz”. Medo!!

– Falando em fim do mundo, aposto que o Paulo Coelho vai ser o primeiro brasileiro a ganhar o Nobel de Literatura. Aguardem e chorem!!

– Serra dá entrevista sobre todos os assuntos Brasil afora. Mas acreditem: ele NÃO está fazendo campanha antecipada à presidência.

– Depois do fim da obrigatoriedade do diploma, os salários para jornalistas caíram drasticamente. Em breve, trarei aqui as provas.

 – O History Channel praticamente virou um Discovery 2. Professores de História e afins estão a ponto de ficar órfãos.

O fim do diploma, ainda

junho 25, 2009

Jornalista, um loserEstava para escrever um texto sobre a novelização do jornalismo, puto que estou com a série de notícias sem nexo, ou simplesmente sem nenhum acontecimento relevante, que assolam desde os grandes jornalões, como a Folha, o Estado e O Globo, até os periódicos ditos “do interior”, incluindo aqui os diários de Mogi das Cruzes. Mas a decisão do STF de acabar com a obrigatoriedade do diploma fez com que eu não pensasse em outra coisa.

Não quis escrever sobre o assunto desde então porque a revolta era grande demais e certamente o texto teria muito mais palavrões e pragas rogadas do que qualquer outra coisa. Hoje, um pouco mais calmo (mas ainda devidamente puto), vou discorrer sobre os argumentos utilizados pelos defensores desta aberração recém-aprovada:

ARGUMENTO 1: Ah, mas o diploma é um obstáculo à liberdade de imprensa!

RESPOSTA: Não tem nada mais ridículo que gente que repete o que os outros falam e não pensa no que acabou de falar. Meu filho, pare e pense: estamos na era da internet. Qualquer analfabeto pode criar um blog, escrever o que der na telha, inclusive fazer algumas matérias e/ou colunas, se for o caso. De onde você tirou que o diploma atrapalha a liberdade de imprensa?

E mais: sabe porque muitas falcatruas não chegam ao público? Porque políticos e empresários aliciam jornais e revistas, para que não publiquem os podres. Em algumas cidades, inclusive na Grande São Paulo, o caminho é inverso: donos de jornais chantageiam políticos, ameaçando-os com dossiês fabricados pela redação: se não rolar grana, publica-se tudo. Os ameaçados cedem e a notícia terrível nunca é publicada. Agora, todo mundo acha que encher uma redação com pessoas não-formadas em jornalismo vai mudar isso.

ARGUMENTO 2: Ah, mas jornalismo não se aprende na faculdade. Jornalismo é vocação.

RESPOSTA: Medicina também é vocação. Quantos médicos já não conheci que me disseram sonhar com a profissão desde pequeno? Que pediam kits médicos de brinquedos na infância, que auscultavam o coração do pai e da mãe quando voltavam da escola? Isso é vocação. Agora, você se submeteria a uma cirurgia feita por esse “médico com vocação” se ele não tivesse feito curso de medicina?

ARGUMENTO 3: Se formar em jornalismo custa caro. O fim da exigência acabou com essa regra excludente.

RESPOSTA: Óbvio que é caro. Caro e difícil. Assim como é caro se formar em direito, em engenharia, medicina etc. Nem por isso se ouve falar em regras semelhantes para outros cursos. O problema aqui não é exatamente o custo da universidade, e sim a dificuldade que os estudantes da rede pública têm de encarar um vestibular numa USP ou Unesp da vida. Este é outro problema e o buraco, pode ter certeza, é muito mais embaixo.

ARGUMENTO 4: O STF acabou com os privilégios dos jornalistas, essa gente prepotente.

RESPOSTA: Jornalista não é só prepotente, é um belo de um filho da puta, também. Quem trabalha em uma redação tende a se tornar uma criatura egoísta, leva-e-traz e extremamente falsa. O que salva o jornalista de ir para o inferno sem escalas é, muitas vezes, a formação humanista que ele venha a receber nos bancos universitários. E querem acabar com isso. Aliás, porque para médico, engenheiro e advogado a exigência do diploma não é um privilégio?

Pra encerrar a postagem (mas não o assunto), alguns argumentos contra a decisão do STF:

– O piso salarial de jornalista é uma piada. Nenhum profissional, de nenhuma área, que tenha passado quatro anos em uma universidade, ganha tão pouco. Como se não bastasse, em muitas empresas se paga menos que o piso, um acinte às leis do País e um desrespeito com o profissional. Com a mudança (e o possível aumento da concorrência desleal), a tendência é que o salário caia ainda mais. Preparem-se para ver anúncios do tipo: “Precisa-se de repórter. Jornada de dez horas diárias. Salário: R$ 400,00”.

– Sem precisar de um curso universitário, os postulantes a uma vaga em jornal precisarão apenas de um curso de trainee, que nada mais é do que uma padronização do funcionário perfeito: um egoísta de mente corporativa, que diz amém para tudo o que o patrão fala pensando apenas no seu crescimento pessoal dentro da empresa. Alguém que não hesita em publicar que o rei está vestido, mesmo tento conferido com os próprios olhos que o rei está nu. A Folha tem feito isso para escolher seus profissionais e o resultado nós temos visto recentemente.

– Ou seja, o fim da obrigatoriedade tem como objetivo apenas atender às necessidades dos barões da imprensa, que continuarão a controlar a mídia da forma que bem entendem. Liberdade de expressão? Há!!

Shrek Terceiro e Fiona

maio 25, 2009

Tenho sérias restrições ao pessoal do PT. E não tenho dúvidas que algum espertinho realmente imaginou: “puxa vida, de repente seria uma boa tentar um terceiro mandato para o Lula”. Até acho que esse espertinho tenha falado sobre a idéia genial para alguns amigos, que também curtiram o negócio. Mas duvido que tenha ido muito além disso. Isto posto, digo que me incomoda bastante a enxurrada de matérias sobre o assunto, como se não tivesse nada mais importante para enfocar no noticiário.

As reportagens sobre as “manobras para emplacar um terceiro mandato” (ou algo que o valha) têm um indisfarçável tom de factóide. Não há nenhum debate sobre o assunto. Ninguém faz nenhum tipo de articulação no Congresso. Nenhum documento bombástico ou gravações a respeito vieram à tona. De onde eles tiraram essa idéia, então? Claro, do próprio Lula, que nega o interesse. Mas depois os jornais estampam: “Lula nega terceiro mandato”, como se tivesse sido pego com a boca na botija e tentando se desvencilhar.

No dia 20, o jornal “Estado de S. Paulo” enfocou o assunto de novo. Em Pequim, questionou Lula que, claro, negou. Mas para não cair na mesmice, o jornal vinculou um outro assunto a este, de forma um tanto heterodoxa: a doença da ministra Dilma Roussef, desde já candidata à presidência pelo PT para 2010. Veja como ficou a chamada no site do jornal.

Mas não aprendeu ainda a fazer círculo? 

Curioso, né? “Lula nega 3º mandato – ‘Dilma está bem’”. Ou seja: a Dilma não vai piorar, logo será nossa candidata. Por isso, não preciso me candidatar pela terceira vez. A chamada faz crer que o PT apenas desistiu do terceiro mandato porque teria encontrado a candidata perfeita. Incrível como a imprensa consegue dar vida a um assunto inexistente.

E, com a mesma habilidade, deixa outros casos morrerem. Vide a própria reeleição, em 1998, e as acusações de compra de votos para a aprovação do mesmo.

Em tempo: tanto PT quanto PSDB não têm candidatos viáveis, apenas prováveis. Emplacar Dilma será tão duro quando emplacar José Serra. A briga vai ser feia entre os dois. Tão feia quanto eles próprios.

A guerra do jornalismo

maio 13, 2009

O jornalismo brasileiro entrou, há algum tempo, em uma perigosa guerra fratricida. A mesma pela qual passou entre os anos 40 e 60, quando grandes barões da imprensa resolveram defender seu terreno de forma autoritária e tudo fizeram para destruir os pequenos e médios jornais e esmagar a mídia independente.

Hoje, em tempos de internet e novas mídias que vão conquistando cada vez mais espaço, a guerra está de volta, dividida em várias frentes. E várias destas representam uma luta de anão contra gigantes.

Uma destas frentes é o embate entre a poderosa Folha de S. Paulo e do pequeno mas influente site Congresso em Foco, do veterano jornalista Sylvio Costa. Há uns bons anos o site vem realizando um trabalho importantíssimo de cobertura política em Brasília. E recentemente ganhou uma grande repercussão nacional por conta de seus furos jornalísticos sobre a farra das passagens aéreas protagonizada por parlamentares.

Tal episódio bastou para que a Folha de S. Paulo, que citava continuamente o site por conta de tais matérias, o fizesse com um estranho interesse, inclusive apontando grandes empresas como financiadoras do site.

As seguidas matérias despertaram a revolta de Costa, que publicou em seu site uma carta-desabafo:

De 27 de fevereiro de 2009 até hoje, o jornal Folha de S. Paulo publicou quase 20 matérias ou artigos citando este site. Em vários casos, levou à sua influente primeira página os resultados da apuração de nossos repórteres, baseando-se exclusiva ou fundamentalmente em informações que você, leitora ou leitor do Congresso em Foco, leu aqui antes. Alguns dos mais importantes, e respeitáveis, colunistas do jornal utilizaram nossas informações para fazerem análises interessantes, pertinentes. Somos, sincera e profundamente, gratos por isso. Aproveito para estender nossa gratidão a todos os colegas dos demais veículos que nos estão abrindo a porta, abrindo a porta principalmente pra força renovadora da internet.(…) 

Lamentável, mas parece que isso incomoda… e incomoda… ahn… à própria Folha?! Permito-me aqui uma liberdade. Tenta visualizar aí, amiga ou amigo: imagens de um Brasil em movimento, esperançoso, clamando por liberdade e mudanças… 

Década de 1980. Ao aderir à campanha das diretas-já e adotar uma série de inovações que levaram à revisão de antigas práticas organizacionais e editoriais das redações, a Folha de S. Paulo torna-se uma referência em termos de jornalismo.

Voltamos. A conversa é de novo textual. Seguimos. E, gente, o tempo passa… Passa, e, como é notório, a credibilidade da Folha vem sendo colocada em xeque por vários fatos ou pessoas que questionam com frequencia e indignação crescentes sua conduta, seja pelos erros cometidos, seja pela resistência em reconhecê-los e corrigi-los. E nenhum outro jornal brasileiro perdeu tanta circulação nas últimas décadas, em números absolutos. Segundo levantamento recente da revista Meio & Mensagem, a Folha, que chegou a vender mais de 1 milhão de exemplares por dia, fechou o primeiro trimestre deste ano com uma circulação média diária de apenas 298.352 exemplares.

E não é que a Folha resolveu jogar lama na gente, menina? E o fez, repare só, com a sutileza própria – e, por isso mesmo, mais perversa – dos cirurgiões hábeis e dedicados. Gente acostumada com o trato da informação e perfeitamente habilitada para avaliar seus efeitos.

O texto é longo e continua. Você pode ler a íntegra aqui

http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=537IMQ007

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maio 6, 2009

Deu no Comunique-se:

A reportagem de capa da edição de 22/04 da revista Veja traz uma matéria coordenada muito parecida com um artigo, publicado quase um mês antes, pelo jornal americano The Wall Street Journal (WSJ). Tanto a estrutura como trechos do texto são idênticos. Questionada pelo Comunique-se, a repórter Gabriela Carelli negou a ocorrência de plágio.(…)

A matéria em questão foi publicada num box com o título de “Genes no combate ao crime”. Ela trata da utilização de traços genéticos na elucidação de crimes, mesmo tema do artigo “Descrevendo um ladrão: genes traçam aparência de suspeitos”, publicado pelo WSJ em 27/03.

O texto do site, na íntegra, está aqui. É preciso ter cadastro no site.  http://www.comunique-se.com.br/conteudo/newsshow.asp?menu=JI&idnot=51895&editoria=8

 Entre outras barbaridades supostamente cometidas pela Veja, o Comunique-se cita pessoas que não foram entrevistadas pela revista, mas são citadas como se assim o fossem. Algo realmente lamentável.

 Evidentemente, tal bola fora será utilizada pelos defensores do governo Lula como um argumento para desqualificar matérias feitas ao governo federal. Em parte, essa turma tem razão, já que a revista tem se notabilizado por críticas rasteiras, notícias sem fundamento e outras atitudes vergonhosas. Mas o buraco é mais embaixo: em primeiro lugar, porque erros da Veja, da Folha de S. Paulo ou qualquer veículo de comunicação não podem dar respaldo para irregularidade de governo algum. Além disso, o método utilizado pela revista semanal mais vendida do País soa não como um ato falho em uma revista respeitável, mas como prática corrente, inclusive na imprensa brasileira de forma geral.

Eu, por exemplo, perdi a conta de quantas vezes vi meu texto ser copiado, ipsis literis, em matérias de jornais, revistas e em notas de televisão. A situação, infelizmente, não é para rir nem tirar sarro.